Grupo Mota-Engil vence leilão para construção do túnel Santos-Guarujá

O grupo português Mota-Engil, que conta com participação da empresa chinesa China Communications Construction Company (CCCC), venceu o leilão para a construção do túnel que ligará as cidades de Santos e Guarujá, no litoral paulista, na sexta-feira (05/09). O certame foi realizado na sede da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), com presença do vice-presidente Geraldo Alckmin, dos ministros Fernando Haddad, Márcio França e Silvio Costa Filho, do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, além de deputados, secretários estaduais e outras autoridades.

A proposta vencedora ofereceu 0,50% de desconto sobre o valor da contraprestação pública máxima, superando a oferta da empresa espanhola Acciona, que apresentou zero por cento de desconto. O critério de julgamento do leilão priorizou o maior percentual de desconto sobre o valor anual de R$ 438,3 milhões. A concessionária será responsável pela construção, operação e manutenção do túnel por um período de 30 anos.

O projeto tem investimento estimado em R$ 6,8 bilhões, com aporte público de até R$ 5,14 bilhões, dividido igualmente entre o governo federal e o governo de São Paulo. A parcela restante será financiada pela iniciativa privada.

Durante o leilão, um grupo realizou protesto em frente à sede da B3, alegando que a obra poderá provocar desapropriações. José Santaella, representante da Associação Comunitária do Macuco, afirmou que cerca de 200 famílias podem ser impactadas, dependendo do local de instalação do túnel. Segundo ele, os moradores ainda não receberam informações sobre os possíveis efeitos da construção. Santaella defendeu um processo de desapropriação justo e pediu que o Estado garanta documentação rápida para os moradores da região, além de uma avaliação adequada dos imóveis.

Na véspera do leilão, o ministro Bruno Dantas, do Tribunal de Contas da União (TCU), rejeitou pedido do Ministério Público junto ao TCU (MPTCU) para suspender o certame. O MPTCU alegava que o modelo de leilão poderia favorecer grupos estrangeiros e restringir a participação de empresas brasileiras. Em sua decisão, Dantas considerou que a representação se baseava apenas em reportagem jornalística, sem apresentar provas concretas de irregularidades. Para o ministro, questões de financiamento são externas ao processo licitatório e não configuram falhas no edital.

O túnel Santos-Guarujá será a maior obra do Novo PAC (Plano de Aceleração do Crescimento) e a primeira travessia submersa do Brasil. Com 1,5 quilômetro de extensão, sendo 870 metros imersos, o projeto utilizará módulos de concreto pré-moldados instalados no leito do canal portuário. A estrutura contará com três faixas de rolamento em cada sentido, uma delas adaptada para Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), além de ciclovia, espaço para pedestres e galeria de serviços.

A obra já possui licença ambiental prévia emitida pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), em agosto de 2025. Atualmente, a travessia entre Santos e Guarujá é feita por dois principais meios: o trajeto de 43 km pela Rodovia Cônego Domênico Rangoni (SP-055), com tempo médio de 60 minutos, e o sistema de balsas e barcas, com tempos que variam de 18 a 60 minutos, conforme as condições operacionais do porto.

Segundo o governo paulista, mais de 21 mil veículos, 7,7 mil ciclistas e 7,6 mil pedestres utilizam diariamente as travessias por embarcações. Com o túnel, o tempo de deslocamento entre as duas cidades não deverá ultrapassar cinco minutos. A ligação entre as regiões de Outeirinhos e Macuco, em Santos, e o bairro Vicente de Carvalho, em Guarujá, promete aliviar o tráfego na rodovia, fomentar o turismo, fortalecer a economia local e contribuir para a redução de emissões, ao incentivar o uso de meios coletivos e sustentáveis de transporte.